Porque Ronda Rousey foi derrotada?

Por Felipe Fasanella

A grande estrela do UFC, até então dona de um cartel de 12 vitórias e nenhuma derrota, foi nocauteada no segundo round da noite de ontem por Holly Holm, por chute na cabeça e socos, após ser amplamente dominada.  Enquanto o resultado chocou o mundo, alguns fatores podem explicar o desenrolar do combate, e mostrar que não foi um golpe de sorte:

1- Hype da mídia ao redor da ex-campeã, que chegou a ser considerada a melhor atleta do planeta.

2- Falta de humildade, que em entrevistas demonstrou que não acreditava na possibilidade de derrota, e já planejava suas próximas lutas.

3- Excesso de compromissos extra oficiais. Filmes, aparições em programas, comerciais. Cada dia Ronda estava em um compromisso midiático diferente. Em todos se gabava do domínio absoluto que exercia sobre a categoria e como iria se aposentar invicta. Confiança é de extrema importância para um atleta de alto nível, porém deve sempre ser medida.

4- A competição finalmente ficou dura. Desde que entrou no UFC, em uma luta onde quase foi finalizada por Liz Carmoche (fato que todos esquecem), Ronda enfrentou as melhores adversárias que a organização permitia enfrentar, porém sendo o MMA feminino um esporte novo, Ronda não chegou a enfrentar uma grande atleta até Holly Holm. Uma pugilista de nível mundial era algo novo para Ronda, e a superioridade da rival na trocação era evidente através dos títulos que Holly já conquistou na nobre arte.

5- O jogo em pé de Ronda ainda não é excelente. Mesmo na luta contra Bethe Correia, onde a ex-campeã nocauteou a brasileira em segundos, os golpes foram diversas vezes bastante descoordenados, mesmo que tenham conectado. A luta não me agradou, e mostrou mais o baixo nível e resistência da brasileira, do que alto nível da americana.

6- Ronda acreditou no próprio mito de que somente Cris Cyborg poderia derrotá-la. Desde os primórdios da fama de Ronda ela sempre foi assombrada pela imagem da brasileira, que muitos diziam ser a única capaz de derrotá-la, e que enquanto Dana White e o UFC a mantivessem afastada, seu reinado não seria efetivamente ameaçado.

7- Na ausência das três maiores estrelas que o UFC já viu, George Saint Pierre, Anderson Silva e Jon Jones, o UFC precisou criar novas sensações para vender PPV (pay per view). Acabou apostando as fichas em lutadores que ainda não haviam demonstrado todo seu potencial. Connor McGregor e Ronda Rousey, da noite para o dia se viram transformados nos maiores lutadores que o mundo já vira, nos olhos da organização, porém sem a carga e a experiência que os campeões de outrora. Connor quase decepcionou em sua luta contra Chad Mendes, onde foi dominado por dois rounds, até conectar duros golpes e virar o jogo. Se ele perder para o melhor peso-por-peso do mundo José Aldo, o UFC ficará novamente sem estrelas?

8- Diversos “escândalos” pessoais de Ronda vieram a tona nos últimos meses. O início do namoro com o polêmico Travis Browne, as brigas entre sua mãe e seu técnico, e outros fatos que podem ter atrapalhado ainda mais a concentração de Ronda em sua preparação.

9- Holly Holm sempre foi extremamente respeitosa a posição de liderança de Ronda na modalidade, ressaltando diversas vezes a importância dela para o crescimento do esporte, porém, era visível a confiança de Holly na vitória, algo que não havia notado em nenhuma das outras competidoras, com exceção talvez de Misha Tate.

10- Além da experiência na trocação, a envergadura e alcance de Holly Holm poderiam fazer a diferença (e realmente fizeram), uma vez que dificultam as tentativas de queda, mantendo a distância e controlando as ações.

Os passos de Ronda agora são óbvios, se ela deseja continuar no topo da categoria. Diminuir os compromissos midiáticos, exigir uma revanche imediata, que certamente será concedida, e respeitar a adversária, e talvez o desfecho do próximo combate seja diferente, afinal de contas ainda se trata de uma atleta extremamente dominante e bem preparada. A falta de foco pode tê-la prejudicado, porém ela possui todas as armas para se reerguer e retomar o cinturão.