
Padre Zé venceu o coronavírus após 21 dias intubado e é exemplo de esperança contra a doença
Em janeiro de 2020 pouco se falava e se sabia sobre o coronavírus. Três meses depois, a rotina de todos foi fortemente impactada com o avanço da doença e o aumento de casos. O uso de máscara facial tornou-se obrigatório em todos os estados do país. O distanciamento social foi regra fundamental para que o vírus não se espalhasse ainda mais rapidamente. Os abraços ficaram pelo caminho. As portas de lojas, comércios, restaurantes, bares, permaneceram fechadas. Os shows, eventos, aniversários, casamentos, já não podiam ser realizados. As igrejas e templos religiosos permaneceram vazias, com portões fechados. Os dias foram difíceis. Foram tempos de fortalecer a esperança, quando tudo parecia perdido.
A principal companhia de muitos nesse tempo de sombras foi a fé. A esperança de dias melhores foi alimento fundamental para crer na vitória diante da doença. A fé é aliada, tanto daqueles que não foram acometidos pela covid-19, mas principalmente para aqueles que lutaram contra a doença dentro de casa ou precisaram ser internados. Esse é o caso de José Ferreira da Silva, padre, pároco da Igreja Nossa Senhora da Glória, no Pedregulho em Guaratinguetá. A história do ‘Padre Zé’, como é carinhosamente conhecido, foi repercutida e compartilhada inúmeras vezes nas redes sociais e relatada por nós do Jornal de Guará.
No fim de abril deste ano, Padre Zé estava fazendo um retiro quando começou a sentir sintomas gripais. Ele procurou uma unidade hospitalar, fez um teste para a covid-19 e o resultado foi positivo para a doença. O início do tratamento foi em sua própria casa, com isolamento e medicação, seguindo as recomendações da época da OMS (Organização Mundial da Saúde), do Ministério da Saúde e das secretarias de Saúde do Estado e de Guaratinguetá. Entre abril e maio, Guaratinguetá enfrentava o pior momento da pandemia com leitos lotados, número crescente de casos e óbitos.
Depois de alguns dias de tratamento, Padre Zé teve piora no seu quadro de saúde e procurou atendimento no Hospital Frei Galvão de Guaratinguetá. Porém, com leitos lotados e sem vagas na UTI (Unidade de Terapia Intensiva), ele não conseguiu ser internado na cidade e acabou transferido para São José dos Campos. Em São José, ele deu entrada na UTI e precisou ser intubado. Começava ali uma batalha pela própria vida que durou 52 dias e terminou com final feliz, quando ele teve alta médica. Mesmo depois de ter saído do hospital, Padre Zé preciso fazer fisioterapia e cuidados de enfermagem em sua residência. Além dos mais de cinquenta dias internados, ele ficou três meses realizando processo de recuperação clínica.
“Depois de 50 dias internado e 21 dias intubado na UTI. Sei que todos se moveram através da oração, da fé, que nós construímos juntos através da igreja e comunidade. Sou muito grato a minha família, ao arcebispo Dom Orlando, que me acompanhou durante todo esse tempo, aos meus irmãos padres, religiosos e religiosas que estiveram em solidariedade nesse momento difícil que passei”, contou o padre em um vídeo publicado na Paróquia Nossa Senhora da Glória, um mês após ter recebido alta médica, quando estava fazendo tratamento de recuperação após ter superado a doença.
O professor e filósofo Mário Sérgio Cortella, em entrevista a Rádio Gaúcha, neste ano, explicou que a angústia e agonia causada durante a pandemia devem ser enfrentadas com ações concretas, solidariedade e pensamento social, além da necessidade de entendimento de que tudo é passageiro e manter a esperança em dia, aliada a fé e crença de cada um. “Não há bem que sempre dure, nem mal que nunca se acabe. Não significa acomodação, mas compreensão de que as coisas só são passageiras e elas passam bem, quando a gente junta nossas inteligências e somos capazes de cooperar. Aquilo que é difícil, torna-se apenas difícil, e não se torna impossível. Por isso a ideia do ‘não se desespere”, citou Cortella, ao ser questionado sobre a reflexão e o fortalecimento da esperança durante a pandemia.
A história de Padre José Ferreira da Silva retrata inúmeras de tantos outros brasileiros que superaram a covid-19 e mostra que, independentemente da realidade de cada um, ter fé e esperança são atitudes de consciência e perspectiva sobre o tempo e a vida. Somente em Guaratinguetá, são mais de 14,6 mil pessoas curadas do coronavírus. A pandemia vitimou 323 pessoas na cidade.