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Crítica: Jurassic World

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Por Felipe Fasanella

O primeiro filme da série Jurassic Park foi um marco na história do cinema. Dirigido por Steven Spielberg em seu ano iluminado (lançou também o ganhador do Oscar “A Lista de Schindler” menos de 6 meses depois), a obra quebrou todos os recordes de bilheteria e maravilhou o mundo quando trouxe de volta a vida dinossauros extintos a mais de 65 milhões de anos. O único fracasso foi o parque em si, uma vez que antes de sua abertura oficial, uma mera visita de paleontólogos se transformou em tragédia e o projeto foi cancelado. Porém, a pergunta que pairou no ar por 22 anos e 2 sequências foi a mesma: Como seria o parque, se o mesmo fosse realmente aberto?

Jurassic World responde esse questionamento logo nos primeiros minutos. A visão de John Hammond foi colocada em prática e o grande parque temático já está aberto e funcionando a alguns anos, e crianças e adultos viajam para admirar de perto os enormes dinossauros. As atrações mostradas na tela são empolgantes e o parque é realmente bastante atrativo visualmente. Com o tempo, porém, as pessoas começam a se acostumar com as criaturas, e o parque decide tomar iniciativas para atrair a curiosidade de todos novamente. Através de modificações genéticas, a equipe de cientistas chega ao ponto extremo de criar o seu próprio dinossauro, o Indominus Rex, mais letal, inteligente e adaptado do que qualquer outro, e para a “enorme surpresa” de todos, o animal escapa e inicia a já esperada e pouco inovadora trama.

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O filme não nega a existência do segundo e terceiro filmes da série, porém nenhum dos eventos desses tem relevância nenhuma para a trama. Por outro lado, o filme traz diversas referências ao original, funcionando assim como sequência direta deste, sendo que o único ator presente em ambos os filmes é B. D. Wong, que interpreta o geneticista Dr. Henry Wu, principal responsável pela criação do híbrido Indominus Rex (parte T-Rex e parte “Confidencial”).

Colin Trevorrow é um competente diretor de primeira viagem em filmes de grande orçamento, porém não consegue recriar os momentos de magia que Steven Spielberg nos mostrou em Jurassic Park. Não se trata de uma questão nostálgica, o fato é que no filme original literalmente tudo se encaixa perfeitamente. A música, o caminhar da trama, o posicionamento da câmera, a lenta exposição dos dinossauros, a tensão com os ataques dos velociraptores, etc. Quem não se lembra vividamente da água tremendo no copo dentro do Jeep no ritmo dos passos do enorme T-Rex, ou dos protagonistas observando maravilhados ao verem pela primeira vez os dinossauros, enquanto a melodia tema de John Williams toca ao fundo, ou até mesmo do combate final entre o T-Rex e os 3 Velociraptores no salão principal?

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Uma das minhas grandes preocupações com este filme era com relação ao treinamento dos velociraptores, porém o filme aborda bem o tema, mesmo que alguns momentos tenham ficado extremamente forçados. O relacionamento entre Owen Grady (Chris Pratt) e o raptores, assim como o respeito mútuo adquirido através de anos, é muito bem aproveitado.

No geral, a produção desenvolve a história de maneira satisfatória e o último ato é incrível, com muita ação entre o novo dinossauro e os vilões tão conhecidos e adorados dos filmes anteriores. O terceiro ato do filme é muito bem elaborado e a execução das cenas de ação é muito boa, criando uma tensão muito grande com a invasão dos dinossauros a região do parque onde os humanos se encontram refugiados.

Chris Pratt, que ficou famoso por papéis coadjuvantes em seriados como “Everwood”, a excelente comédia “Parks and Recreation”, e filmes cult como “Ela”, chegou ao estrelato em “Guardiões da Galáxia”, como o protagonista Starlord e mostra que veio pra ficar com mais uma atuação de destaque em um grande lançamento. Bryce Dallas Howard está mediana e sem grande expressão no papel de Claire, a administradora do parque, que acompanha de perto a aventura de Cris Pratt. Omar Sy (“Os Intocáveis”) e Vincent D´Onofrio (“Demolidor”) tem pequena participação, mas de bastante importância, principalmente o segundo, como o chefe de segurança que deseja transformar os raptores e o Indominus Rex em armas para o exército americano.

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A inclusão desnecessária de dois irmãos no filme é de longe o maior problema com a produção. Muito tempo é perdido em dois atores sem a menor expressão, em cenas monótonas e repetitivas e explicações desnecessárias sobre a vida dos dois fora da ilha. Além disso, a trama demora muito para começar, sendo que o protagonista Owen demora cerca de 30 minutos para aparecer, principalmente devido a idéia completamente datada de que todo filme de catástrofe precisa ter uma criança em perigo. O núcleo protagonista, em certos momentos acaba sendo abandonado em detrimento de cenas que não possuem a menor importância e não evoluem de maneira alguma a trama.

Sendo assim, mesmo que as limitações narrativas o impessam de ser um grande filme, Jurassic é extremamente divertido, e mesmo sem muitos momentos memoráveis, é certamente melhor do que o seu antecessor (Jurassic Park 3). Não importa se a produção merece ou não a bilheteria de US$ 1.663 Bilhões (3ª da história, atrás apenas de Avatar e Titanic). O importante é que Jurassic World reafirmou aos estúdios o poder da nostalgia nos tempos de hoje, e em uma era de remakes, sequências, reboots e franquias, não creio que esta seja uma reafirmação positiva, uma vez que aprofunda ainda mais a crise de identidade e falta de criatividade que Hollywood apresenta na última década.

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