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Memórias do Cárcere: Guará constrói UPA onde era Cadeia

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Paredes das celas onde será Centro de Diagnóstico trás mensagens de ex-presos; resquícios da vida sofrida atrás das grades

O dia era 29 de dezembro de 2010. Em um corredor escuro ao lado de oito celas, o carcereiro de plantão dá a notícia mais esperada pelo então preso Márcio: “Arruma as suas coisas, seu alvará cantou”. A alegria do ex-detento da Cadeia Pública de Guaratinguetá era tanta que ele não se conteve e escreveu na parede da cela: “Fui!!!!!”. Passados dez anos, a palavra continua lá, mas em uma circunstância bem diferente.

Após ser interditada em 2014 em razão de superlotação, rebeliões e problemas estruturais, a Cadeia da cidade, que recebia presos em flagrante, nunca mais funcionou. Agora, a Prefeitura está construindo uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) no prédio onde também ficava a Delegacia, obra bancada pelo Ministério da Saúde ao valor de R$ 3 milhões.

Antes de refazer as paredes das 15 celas que se localizam em dois corredores, a arquiteta e urbanista Mariana Maita ficou surpresa ao localizar inúmeros escritos sejam a lápis, caneta, corretivo líquido, entre outros objetos utilizados para riscar. São declarações de amor, desenhos, apócrifos, passagens bíblicas, frases de efeito moral, do mundo do crime, times de futebol, músicas, facções, entre outras referências.

“Fiquei olhando as frases antes da obra começar e me emocionei. Existe uma carga energética nas palavras e quem é espiritualista pode acreditar que isso vai ajudar pelo fato da UPA ser uma atividade oposta”, afirmou Mariana.

Motivação que muitas vezes estava ao lado de quem passava anos dividindo o tempo entre as celas e os dois pátios da Cadeia que tinha capacidade para 64 presos, mas chegou a abrigar 168, em 2000, ano da pior rebelião do local. “Fé e esperança é só o que resta pra nóis”, grafou Diguinho.

Vale em peso

Nas paredes, há referências de pessoas de quase todas as cidades do Vale, inclusive com mensagens reflexivas, como a escrita por Danilo JV. “As grades podem prender o meu corpo, mas não os meus pensamentos e sentimentos”.

Havia quem estivesse arrependido do delito cometido e a parede era o principal meio de expressão. “Vida no crime não compensa para e pensa”, escreveu VB.

Referências a Bob Marley, Johnn Lennon, Sabotage e Racionais também ficaram registradas no local. São várias passagens bíblicas e também puxões de orelha para falsos profetas. “Fácil é ter Jesus no peito. Diferente é ter o peito pra andar com Jesus”, deixou marcado Zé do Trém, de Taubaté.

Novos ares   

A previsão da Companhia de Desenvolvimento de Guaratinguetá (CODESG), responsável pela execução da obra, é concluir a UPA ainda este ano. A estrutura deverá atender cerca de 450 pessoas por dia com salas de emergência, estabilização da vida, atendimento médico, sutura, curativos, consultórios e um centro de diagnóstico.

Agora, o que antes era motivo de sofrimento, vai dar espaço para tratamentos que poderão salvar vidas. Exemplo para que mais hospitais e escolas ocupem espaços hoje dominados por presídios, cadeias e CDP’s.

Texto e reportagem: Lauro Lam

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