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Crítica: Divertida Mente

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Por Felipe Fasanella

Com o lançamento do clássico instantâneo Toy Story na já distante década de 90, a Pixar se tornou a empresa responsável por filmes extremamente criativos e originais, ano após ano. 11 filmes e 16 anos depois, período que inclui obras primas como Procurando Nemo, Up, Wall-e e Ratatouille, fomos apresentados ao primeiro fracasso crítico do estúdio. Carros 2. Os pessimistas acreditavam que a fonte da magia havia se esgotado. O pessimismo quase se tornou realidade quando foram lançados dois filmes formulaicos e pouco inspirados na sequencia, que para mim são as piores produções da empresa. Valente e Universidade Monstro, que estão longe de serem ruins, porém não se comparam as produções de outrora. Esse período de seca criativa dos últimos 6 anos foi maravilhosamente recompensado em Divertida Mente.

Dirigido por Pete Docter, o filme segue Reily, uma divertida filha única de 11 anos que mora em Minesota com seus pais. Nós somos apresentados a Alegria, Tristeza, Medo, Raiva e Nojo, as emoções personificadas da garota, e acompanhamos as interações entre elas, e como essas relações ocorrem dentro do “Centro de Comando”. Cada uma destas emoções originam suas próprias memórias, e moldam o caráter e a personalidade de Reily, sendo que a maioria absoluta de suas memórias são alegres, o que torna Alegria a emoção preponderante e principal responsável por suas atitudes.

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Quando o pai de Reily decide deixar Minesota e se mudar para São Francisco em busca de oportunidades, através da fundação de uma nova empresa, vemos as reações de uma criança a experiências completamente novas, e como uma mudança desta proporção afeta suas emoções e atitudes.  Para mim o filme se tornou extremamente pessoal, uma vez que passei por uma mudança parecida, com praticamente a mesma idade da protagonista, e me lembro de ter sensações semelhantes, principamente com relação as memórias. Além da jornada de Reily em São Francisco, temos outra trama bastante envolvente pelo interior de seus pensamentos e idéias, enquanto suas emoções tentam aprender a lidar com a nova realidade.

Fiquei realmente surpreso com o enfoque adulto que o filme possui. Virou quase um clichê um filme de animação divulgar que “adultos também irão se divertir”, porém é a primeira vez que vejo uma produção com uma história deste calibre e orçamento majoritariamente mirada para o público adulto e que pode ser aproveitada igualmente por crianças, que não irão se relacionar com muitas das referências, porém certamente vão se divertir bastante com as aventuras de Alegria e Triseza. O filme trata as crianças com respeito e acredita que a trama não necessita de piadas fajutas e momentos extremamente infantis para conquistar atenção, como tantos outros fazem. Não reparei um minuto sequer sem alguma sacada ou momento inteligente que deixa o espectador pensando em como aquilo faz sentido, por mais absurda que a premissa seja.

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Um dos pontos altos do filme para mim foram as vozes. A escolha do elenco foi bastante acertada, e as interpretações captam com extrema lealdade as emoções que devem ser transmitidas por cada personagem. Amy Pohler, sempre frenética e positiva como Alegria, quase repete seu papel de Parks And Recreation, enquanto Phyllis Smith de The Office traz uma carga sentimental e cômica a Tristeza. Ironicamente, quase todos os momentos engraçados do filme são originados por Tristeza ou Raiva.

A animação é simplesmente impecável e o design das emoções é perfeito. Não consigo imaginar uma falha com relação aos gráficos durante toda a duração do filme. A figura de cada emoção remete a função dela dentro da personalidade de Reily. Alegria é amarela e brilhante como uma estrela, enquanto Tristeza é azul e redonda com uma lágrima. As ambientações dentro da mente de Reily também são incríveis, desde o Centro de Comando, até a Terra da Imaginação e as Ilhas de Personalidade.

O único defeito que algumas pessoas podem citar é justamente o fato da história ser bastante madura. Creio que crianças mais novas ou com pouca prática em filmes possam ter dificuldade em entender o enredo, o que pode diminuir o interesse pela trama. Wall-E por exemplo, sofreu do mesmo problema.

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Vou concluir pois já falei demais a respeito do filme, e mesmo assim sinto que nem ao menos comecei a explicar o escopo desta obra prima. Meu pai me disse ao final do filme que gostaria de assistí-lo mais pelo menos duas vezes para captar todas as minúcias e significados, o que considerei o maior elogio que um filme pode receber, principalmente se tratando de uma animação gráfica. Nada menos do que uma nota máxima pode ser conferida a esse exemplo de genialidade e criatividade. Disse em minha crítica dos Minions que um filme bom “te diverte, te faz rir, desperta emoções, te trás algo novo e desconhecido de uma maneira agradável”. Apenas por esta frase conseguimos observar o abismo que existe entre os dois lançamentos.