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Crítica: Vingadores – A Era de Ultron

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Por Felipe Fasanella
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Uma grande sequência de bons filmes é um fato raro de se testemunhar no cinema. São poucos os casos onde o sucessor supera o original, como em O Poderoso Chefão Parte 2, O Cavaleiro das Trevas e Exterminador do Futuro 2, sendo que na maioria dos casos o que vemos é apenas uma réplica do produto anterior, com situações ligeiramente diferentes. Essa tendência pode ser facilmente observada em produções como Transformers, Piratas do Caribe e principalmente filmes de terror como Atividade Paranormal e comédias como Se Beber Não Case 2, que copiam os originais de forma grosseira.
Apesar de muitos colocarem Vingadores: A Era de Ultron na segunda categoria, eu discordo. Mesmo com diversas referências ao primeiro filme e uma ameaça de proporções semelhantes, a segunda aventura do grupo de heróis explora de maneira mais eficaz seus personagens, assim como aborda temas mais obscuros e profundos sobre a existência do grupo.  Os heróis estão mais a vontade uns com os outros e a ausência da necessidade de apresentação de cada herói individualmente confere mais tempo para a trama se desenvolver de forma mais satisfatória.

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O arco base do enredo continua sendo o de Tony Stark, que no primeiro filme solo da Marvel deixou de ser um vendedor de produtos bélicos e se tornou herói após passar dias em cativeiro, e em Os Vingadores foi o ponto focal da fundação e união da equipe, mantendo o protagonismo, juntamente com Thor, que é o responsável indireto pela ira de Loki. Agora, Tony deseja ir além, construindo um “escudo” ao redor da Terra com sua Legião de Ferro, em um ambicioso projeto chamado Ultron.
Os eventos deste filme são largamente desencadeados por fatos que ocorreram em outras produções, principalmente a queda da S.H.I.E.L.D em Capitão América: Soldado Invernal, trazendo grande coerência ao Universo Cinematográfico da Marvel. Além de olhar para trás, o roteiro também inclui pistas dos próximos filmes a serem lançados pelo estúdio, como Thor: Ragnarok, Capitão América: Guerra Civil e até mesmo Pantera Negra.

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As atuações são convincentes como sempre, e o elenco foi muito bem escolhido. Mas quem realmente surpreende é Ultron, com voz de James Spader (Blacklist). O vilão pode ter sido criticado por sua falta de originalidade, tendo em vista que diversos filmes já exploraram a ideia de uma Inteligência Artificial que se rebela contra a humanidade, (incluindo clássicos como Hal 9000 em 2001: Uma Odisséia no Espaço e Skynet em Exterminador), porém Spader traz gravidade e imprevisibilidade a Ultron, com sua voz hipnótica, mesmo que o vilão não tenha o devido destaque e nem o tempo de tela que merece.
O herói que tem um foco interessante e surpreendente é Gavião Arqueiro, tendo sua história aprofundada e algumas cenas cômicas bem legais. As novas adições à equipe, especificamente Quicksilver e Feiticeira Escarlate não adicionam nada a trama, além de atuações medianas e sotaques irritantes e desnecessários. Visão, por outro lado é simplesmente incrível. Sua origem é muito bem desenvolvida e aproveitada, seu design é excepcional e seu monólogo é a melhor cena do filme, interpretada por Paul Bettany, que até então fazia a voz de Jarvis. A sua origem era um grande mistério antes do lançamento e foi extremamente bem executada, unindo ciência (Banner e Stark) e misticismo (Thor) para criar um espécime que provavelmente será o herói mais poderoso em futuros projetos. Além disso, a Armadura Hulkbuster foi apresentada, trazendo para as telas uma luta épica e extremamente aguardada.

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Impossível evitar comparações com o primeiro filme, portanto analisarei alguns pontos chaves da trama. O ínicio de Vingadores: A Era de Ultron é mais repleto de ação, uma vez que não precisa estabelecer os personagens e nem originar a união dos mesmos, como é feito no início do primeiro. Além disso, não existe nenhuma cena que desperdiça tanto tempo quanto o momento em que Tony e Capitão América precisam consertar o motor do Porta-Aviões, como ocorre no primeiro filme. A soma desses dois pontos, confere a Ultron mais tempo para desenvolver uma trama com mais camadas e conflitos. Por outro lado, a cena final do primeiro filme é mais divertida e bem executada, além do peso que o quesito novidade tem em uma extensa cena de ação. Ver todos os heróis juntos em uma grande batalha pela primeira vez é algo inesquecível e que já faz parte dos momentos clássicos do cinema recente. Já no segundo, a fórmula está ligeiramente desgastada, e esse desgaste é sentido. Os alienígenas do primeiro filme já haviam sido criticados por serem fracos e facilmente derrotados, sem contar no enorme deus ex machina* do final. Eu esperava que esse ponto fosse ser melhorado em Ultron, tendo em vista que são robôs remanescentes de tecnologia criada por Tony Stark, porém o exército de Ultron parece formado por bonecos descartáveis, que são derrotados com uma facilidade absurda, até mesmo por humanos sem quaisquer poderes. O final de Ultron também não está salvo de um deus ex machina*.
Quanto aos vilões, Loki possui mais destaque em Os Vingadores, porém a ideia de reaproveitar inimigos não me agrada. Além disso, apesar de carismático, nunca gostei de Loki como vilão, pois ele não transmite qualquer ameaça, sendo facilmente derrotado por Homem de Ferro, Thor e Hulk, em três momentos distintos do filme, sem contar sua aparição anterior na aventura solo do Deus do Trovão. Ultron é mais ameaçador e excelentemente interpretado, porém sua origem é bastante corrida, seu plano é nebuloso e seu destaque é reduzido, mesmo que a urgência do seu plano seja muito maior, uma vez que coloca em risco toda a humanidade, enquanto Loki apenas invade Nova York.
A Era de Ultron corrige alguns erros e desfaz alguns acertos do primeiro, porém toma um rumo próprio quando se trata de desenvolvimento de personagens, o que é louvável em uma sequência desse porte.
*Obs: Deus ex machina ocorre quando algum fator até então desconhecido e inexplicado decide o destino da trama. Como exemplo máximo de um deus ex maquina podemos citar as Águias de O Senhor dos Anéis e a alergia a água dos alienígenas em Sinais.